sábado, 14 de julho de 2007

Foi Assim

Estou lendo o livro “ Foi Assim” de Zita Seabra mas, não poderia ficar indiferente, e gostaria de partilhar convosco uma crónica do jornal Expresso de João Carlos Espada, que fala do livro e o descreve de uma forma simples em relação a Zita Seabra e à tragédia do comunismo português.
“ Foi Assim” é o titulo do livro de Zita Seabra que foi apresentado na semana passada, no Quartel do Carmo perante vasta assistência, por Mário Soares, José Pacheco Pereira e Carlos Gaspar. Foi uma celebração da liberdade.
Zita Seabra conta as suas memórias desde que, aos 15 anos, aderiu ao partido comunista (em 1965) até que deixou a ideologia comunista, em 1989 (tendo sido expulsa em Maio de 1988). A principal mensagem que insiste em transmitir é que, para romper com o comunismo, é preciso compreender que não foi a (má) prática comunista que distorceu os (bons) ideais comunistas. A má prática foi apenas a consequência dos maus ideais.
Qual é a natureza do mal comunista? Vários grandes autores do século XX deram contributos para o definir. Raymond Arons pôs a nu o ópio dos intelectuais, uma ideologia totalizante que recusa ser confrontada com os factos. Karl popper denunciou o dogmatismo historicista, gerador de um profundo relativismo moral. Friedrich Hayek mostrou como marxismo e nacional-socialismo eram duas expressões de uma mesma atitude intelectual, hostil a uma ordem livre e descentralizada.
Todos eles enfatizaram a hostilidade do comunismo contra os modos de vida espontâneos das pessoas comuns, enraizadas em instituições livres nas quais se sentem confortáveis: a casa própria, a família, a realização profissional, os hóbis, a religião. Estas esferas plurais constituem uma reserva de liberdade contra a vontade política sem entrave. Mas, acima de tudo, elas constituem reservas de felicidade e realização pessoal, independentes da manipulação política.
Não sei se Zita Seabra concordará com Oakeshott. Mas atrevo-me a dizer que ela é o melhor exemplo da tese Oakesshotteana. Ao abandonar o PCP, Zita Seabra teve a audácia de refazer inteiramente a sua vida. Lançou-se na actividade editorial privada, de rara qualidade; preservou a sua vida familiar intacta, longe dos holofotes colectivistas da praça pública (o que, aliás, muito bem faz também no seu livro); refez e ampliou amizades; retomou a acção política no PSD, a tempo parcial; finalmente, fez um percurso privado de aproximação à religião cristã.
Esta alegria de viver e apreciar de Zita Seabra é, em meu entender, a melhor celebração da liberdade e a mais profunda ruptura com o universo soturno do comunismo.

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