quarta-feira, 28 de maio de 2014

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domingo, 25 de maio de 2014

O DESPERTAR DO ENCANTAMENTO

Por vezes, vivemos a vida de uma forma tão intensa que nos transporta para um estado de encantamento, porém, algo nos toca e nos faz acordar desse limbo, nos desperta do encantamento …e, verificamos que os ideais que procurámos uma vida pode não ter sido um ideal, não uma realidade mas sim uma utopia.


( Citando Jean-Jacques Wunenburger)

Todo o pensamento político é inseparável da representação de um modelo ideal que serve de norma e de fim às ações coletivas. A idade de Ouro viu-se suplantada por uma forma de sociedade predominantemente racional, que se foi associando a um tempo messiânico a que a Idade Moderna viria a chamar utopia. Em que medida tem a utopia um destino que se liga, ou se cruza, com projeto de racionalização política da modernidade? E se, de fato, a utopia e filosofia política se tornaram inseparáveis, que revela a história das utopias sobre esta racionalização do mito sociopolítico? Em que medida, a politização do imaginário utópico não terá conduzido a um empobrecimento, a uma redução, um ajustamento dos próprios ideais da Cidade? A utopia, enquanto projeto literário de criação de uma sociabilidade e humanidade ideais, é um género tardio, típico do Renascimento. Desenvolve-se segundo um modo descritivo. Desenhando esboços, enumerando costumes ou leis, nos antípodas dos processos de investigação, análise e argumentação próprios do trabalho conceptual da filosofia política...

Contudo, a utopia, já nos exercícios literários do Renascimento e, mais tarde, nas tentativas de experimentação “em tamanho natural”, nunca deixou de ter afinidades com a racionalidade sua contemporânea. Ao procurar, a título de simulação, produzir uma imagem pura e transparente de uma ordem social, técnica, económica, política, etc., a utopia recorreu a normas de pensamento próximas da racionalidade filosófica do período clássico...
A utopia não se terá tornado, afinal, uma das expressões laterais do ideal do racionalismo filosófico, que visa tornar o real transparente e, assim, equivalente à imaterialidade cristalina do conceito? Não construiriam ambos os seus espaços, mental e social, segundo a mesma lógica? Importa, pois, perguntarmo-nos de que modo a utopia, nascida das imagens míticas antigas, foi progressivamente adotando uma ótica intelectual destinada a transformar as realidades concretas em objetos ideais e translúcidos...

O género utópico, nascido com Thomas More em 1517, e que continuará a ir buscar a More imensos dos seus códigos retóricos, procura delinear planos de cidades e configurar agrupamentos que permitam romper com as imperfeições humanas comprovadas pela história. Mas este cenário de sociedade ideal implica, sobretudo, uma luz nova sobre a realidade, mais do que sua transformação efetiva ou uma mudança radical da natureza das coisas. O método utópico consiste, essencialmente, num exercício ótico que deverá permitir olhar a realidade humana sob uma luz viva, capaz de eliminar as sombras, fazer aparecer o oculto, ou seja, metaforicamente, os males da sociedade. Neste sentido, o utopista não inventa nada de verdadeiramente novo, antes clarifica e purifica o antigo por um efeito de reflexão e de inversão, que resulta essencialmente de jogos de espelhos e de luz...

A utopia, na medida em que opõe ao real imperfeito a visão de uma ordem ideal, mostra-se, pois, acima de tudo, uma técnica de mudança do olhar. Amainar as coisas e emendar os homens significa menos modifica-los do que arranca-los à obscuridade e à confusão espontâneas da vida. O utópico é, antes de mais, alguém que espera que um olhar de uma intensidade deslumbrante tenha p poder de iluminar a humanidade, fazendo desaparecer espontaneamente, à velocidade da luz, todas as imperfeições e malquerenças. O utópico converte, pois o sol em olho e o olho num poder magico de transformar o homem e a sociedade...

… A época em que emerge a utopia moderna vê, pois, coexistirem, misturarem-se e combaterem-se duas formas de utopia, duas Cidades, a espiritual e a histórica, e, assim, dois modelos de pensamento: um que ascende das trevas da alma para a luz que ultrapassa, outro que procura impor a sua luz a tudo aquilo que encontra. No primeiro caso, a filosofia associa-se à experiência do heterónimo, do claro / escuro, a um pensamento que encontra a resistência do que não pode ser pensado; no segundo caso, a filosofia desenvolve-se como uma vontade de autonomia, um desejo de iluminar toadas as coisas para, de algum modo, conseguir que o real se torne racional e o racional em real, de acordo com a fórmula de Hegel.

...A utopia moderna, à semelhança da razão cientifica e política, não irá, também ela, ser tentada a transpor os seus limites, a depurar o real de qualquer zona de sombra e a transformar a Cidade num artefacto translúcido? Não irá a espiritualidade visionária converter-se numa espécie de voyeurismo que despersonaliza tudo, varrendo a esfera do visível num desvario alienante? Em resumo, não se converterá a utopia numa e ideologia totalitária, ao objetivar e radicalizar o seu simbolismo inicial? Paralelamente, a autonomia reivindicada pela razão não irá abrir as portas à auto-suficiência e ao orgulho, e , consequentemente, gerar uma razão que recusa em si própria qualquer sombra e, fora de si, qualquer resistência? Não vestirão a razão auto-referenciada e a utopia autárquica a pele do totalitarismo?...

 C. S.