domingo, 20 de março de 2011

Geração à Rasca




A crónica da jornalista Fernanda Câncio em Noticias Magazine (DN), sobre a “Geração à Rasca” é actual e muito pertinente:

(…)

Mas Vamos ao que interessa. De um modo geral, a percepção que tenho é de que os miúdos que hoje andam na faculdade ou que acabaram de dela sair vivem francamente melhor do que eu vivia na mesma situação. Têm um muito mais elevado bem-estar material – que de resto é confirmado pelos indicadores estatísticos, mas que se afere, por exemplo, visitando uma qualquer faculdade e contando os carros estacionados por todo o lado. Parece incrível mas quando andei na faculdade ninguém ia de carro para as aulas – a não ser os professores. Ninguém mesmo. Também não tínhamos computadores nem telemóveis – na altura, claro, não havia os segundos e os primeiros eram tal luxo que na minha faculdade, onde tínhamos aulas em antigas cavalariças, só havia um. Saiamos à noite, sim, mas a contar os tostões para a cerveja e os táxis, e no Bairro Alto havia dois ou três bares apenas, não mais, e raramente à cunha. Como a maioria dos meus amigos, comecei a trabalhar antes de acabar a faculdade: numa loja, primeiro, e depois tentando escrever para aqui e para ali. E como a maioria dos meus amigos saí de casa dos meus pais mal pude – e como eles para casas partilhadas, com tectos a cair, mobília de refugo e baratas. Queríamos ser «independentes», viver a nossa vida, por mais desconforto que implicasse.

Não havia incentivos ao arrendamento jovem, muito menos crédito à habitação facilitado, nem estágios arranjados pelas faculdades: era «arranja-te». E, surpresa, já nessa altura se usavam os recibos verdes – metade dos «empregos» que tive até hoje foram a recibo verde. Hoje, 22 anos depois, alguns dos meus colegas de faculdade e de primeiro emprego estão desempregados, a fazer aquilo a que se chama criar o próprio emprego; tenho amigos com salários em atraso. E muitos a recibo verde. Lamento, pois, não perceber de que se fala quando se diz que a geração «actual» corre o risco de viver pior do que a minha; a minha corre o risco de viver pior – ou mesmo muito pior – do que já viveu, (…) corremos o risco de ser a primeira geração a não contar com uma reforma, mesmo se descontámos para ela – sendo que a dos nossos pais foi a primeira a poder, em Portugal, contar universalmente com isso.

Não sei de resto de onde veio a ideia – o direito? – de que íamos sempre viver melhor, que cada geração iria sempre acumular mais riqueza e bens materiais do que a anterior. (…), que íamos todos ficar cada vez mais ricos, consumir cada vez mais e trabalhar menos para isso ou seja, que algures alguém iria produzir o que nós consumimos a preços cada vez mais baixos. Vivíamos bem com isso, até que isso nos bateu à porta: está a bater. Claro que muitos factores influem para o momento difícil que passamos, em Portugal e na generalidade do dito mundo ocidental. (…)

Isto é mau? É, é péssimo. E faz sentido rebelarmo-nos. Com certeza, porém, de que culpar «os políticos» ou as gerações anteriores não nos servirá de nada. É preciso ter uma ideia do que fazer, das exigências/alternativas a apresentar. Chamar nomes, fazer cartazes giros e encher a avenida é catártico mas não nos salva da história."

Fonte: NM, Fernanda Câncio






terça-feira, 8 de março de 2011

Dia Internacional da Mulher

Hoje dia 8 de Março dia internacional da Mulher é justo que se preste uma singela homenagem às mulheres deste país.

A fala de um cravo vermelho


Da braçada de cravos que trouxeste

Quando vieste,

Minha linda,

Há um – o mais vermelho e mais ardente –

Que espera ainda ansiosamente

A tua vinda…

Só ele resta agora, entre os irmãos

Já desfolhados…

Só ele espera que piedosas mãos

- As tuas lindas mãos e os teus cuidados –

Lhe dêem, numa pouca de água clara

E enganadora,

Uma ilusão da vida que animara

O seu vigor de outrora…

Augusto Gil