sexta-feira, 21 de novembro de 2008

A Escola

Um bom artigo de opinião de Fernanda Câncio no Jornal DN sobre a escola, modelo de avaliação, professores e alunos
Cujo titulo “Gostar dos Miúdos”

"Passei umas boas duas horas a falar com ela. Gostei da conversa. Acho que ela também. Falou sem a prioris, sem querer saber de que lado eu estava - mesmo que suspeitasse de que tinha "um lado". Depois do texto - um perfil - publicado, teve a amabilidade de ligar para dizer que se revia. Perguntei-lhe o que tinha achado da manifestação. Ela devolveu a pergunta.A manifestação, é incontroverso, foi um êxito. 120 mil pessoas na rua é uma grande manifestação. Não disse o resto. Não disse que quando no dia 8 de Novembro passei na Avenida da Liberdade e ouvi as palavras de ordem pensei nela. Do que acharia de "categoria só há uma, a de professor e mais nenhuma", e de "aposentação antes do caixão". Pensei se ela, Maria do Rosário Gama, presidente do Conselho Executivo da Escola Infanta D. Maria, de Coimbra, a tal que nos célebres rankings (que desvaloriza) é a primeira das públicas, gritaria aquilo com os outros. Ela que me disse que se tinha dessindicalizado por achar que os sindicatos do sector "só falavam de salários" e me certificou ter durante anos repetido "vamos pagar caro o laxismo e a degradação da imagem do professor". Ela que reconhece ser mais tempo de permanência obrigatório na escola "uma boa medida - havia quem desse 12 horas por semana e fosse para casa" -, que há professores melhores que outros e que "é preciso gostar dos miúdos". Rosário Gama, para quem "gostar dos miúdos" parece ser a qualidade essencial de um professor, é "contra este modelo de avaliação" porque o acha "injusto". E o novo estatuto do docente, diz, tirou-lhe de tal modo a vontade de continuar a fazer o que escolheu como profissão e paixão que pediu a reforma. Porque está revoltada e magoada, engrossou a manifestação em que uma das principais palavras de ordem nega a necessidade de avaliação e de estratificação que a avaliação implica - afinal, a necessidade de justiça profissional. Uma palavra de ordem que envergonha qualquer professor que defenda a dignificação da profissão e a qualidade da escola, e que dá dos professores a imagem de uma corporação inamovível e em fúria. Uma corporação que usa argumentos no mínimo duvidosos para refutar a avaliação proposta - como "ser injusto professores mais novos avaliarem colegas mais velhos", ou "colegas não podem avaliar colegas" - demonstrando que viveu até agora, e deseja continuar a viver, num mundo à parte. Uma corporação que decidiu "mandar abaixo a ministra" e que por esse objectivo está disposta a tudo - a fazer greves e manifestações umas atrás das outras, a aplaudir crianças que protestam não sabem porquê e atiram ovos a não sabem quem, a cumular de insultos quem quer que discorde dela. Uma corporação que engoliu os professores e reduz tudo a vai ou racha. E que, malgrado incluir muitas Rosários Gama, esqueceu que não serve para nada se não servir para ensinar - e que "gostar dos miúdos" não é compatível com transformar a escola num campo de batalha".
Fonte: DN

1 comentário:

Redof etiaV disse...

As conclusões da OCDE (que alguns desmentem) estão nas páginas 412, 436 e 437 do "Education at a glance" de 2008, e ainda na Tabela X2.6c do mesmo documento de 2006. Neste, diz-se que um professor em topo de carreira auferia 43.588 euros. Agora, vejam a comparação: Espanha: 39.803, França: 40.276, Inglaterra: 36.916, Itália: 30.617, Suécia: 29.720, Alemanha: 42.968, Polónia: 9.353. Os professores portugueses em topo de carreira só ganham menos que na Austria, no Japão, na Coreia do Sul, no Luxemburgo e na Suiça. Em todos os restantes países, os ordenados são mais baixos. Vão desmentir estes números, também?

Isto é mesmo verdade?